Em um projeto acadêmico, a isabelense estudou a Klebsiella pneumoniae - uma bactéria hospitalar com alta taxa de morte, que pode tornar-se o próximo problema de saúde global. Grande parte dos antibióticos prescritos para infectados por covid-19 durante a pandemia foram antibióticos que ainda funcionavam com essa bactéria
Aos 25 anos, Larissa Almeida Brigagão viu seu nome registrado em uma revista dos Estados Unidos que aborda temas de Ciências Biomédicas e Pesquisa, a American Journal of Biomedical Science & Research. O veículo de comunicação tem como linha editorial publicar trabalhos de pesquisa científica e técnica, para chamar a atenção para a importância da tecnologia no campo das ciências humanas.
O artigo publicado na revista americana reúne informações estudadas por Larissa, que analisou outros artigos publicados. Larissa teve a missão de investigar na literatura as classes de antibióticos que já estão registros de que a K. pneumoniae é resistente ou suscetível, facilitando o tratamento da mesma, e mostrando a diversidade de resistência da bactéria dentro de uma mesma comunidade, ou até mesmo dentro de um mesmo organismo.
“O objetivo principal era reunir os dados que temos, e mostrar como de fato essa bactéria pode ser sim o próximo problema de saúde global”, disse.
Larissa é estudante da UFABC (Universidade Federal do ABC) – instituição pública de ensino superior paulista. Lá, ela faz um curso base e um específico: bacharel em Ciência e Tecnologia (se forma no início do próximo ano) e bacharel de Biotecnologia (se forma daqui há dois anos). Foi na faculdade, que Larissa conheceu sua orientadora, a Dra. Professora Ana Paula de Mattos Arêas, quem a incentivou em um projeto que chamou a atenção da revista americana.
O interesse pela bacteria Klebsiella pneumoniae partiu da orientadora, que inclusive já possuía algumas pesquisas em andamento e propôs um estudo à Larissa, a qual se inscreveu em um projeto de pesquisa que se chama PDPD. Trata-se de um projeto específico para ingressantes.
“Eu entrei em contato com a Dra. Ana, e ela topou me orientar, e propôs que estudássemos a K. pneumoniae”, contou.
Larissa explica que a K. pneumoniae é uma bactéria multiresistente com uma taxa de mortalidade relevante. “Ela pode contaminar o ser humano, animas e existem registros na literatura até de contaminação em plantas. No caso do ser humano, a contaminação ocorre por meio de aparelhos de manutenção a vida, como respiradores e cateters, é uma bactéria hospitalar”.
Em entrevista ao Jornal Bom Dia, Larissa disse que no Brasil já se tem registros de contaminações pela bactérica em hospitais de Belo Horizonte, Piauí e Santa Catarina.
“Voltando ao primeiro projeto, a ideia principal foi a busca por possíveis candidatos a antígenos para produção de uma vacina, o que seria extremamente necessária já que a bactéria é super resistente, e já não é mais suscetível a muitas das classes de antibióticos que temos hoje”, pontuou.
A relevância do projeto estuado por Larissa ganha mais força devido ao cenário da covid-19. Isso devido ao uso indiscriminado de antibióticos no tratamento do vírus.
“Infelizmente grande parte dos antibióticos prescritos para infectados por covid durante a pandemia foram antibióticos que ainda funcionavam com essa bactéria, e esse uso sem controle, e até mesmo sem motivos, pode acarretar em um agravamento no caso da multirresistência”, explicou a estudante.
De acordo com Larissa, a resistência ocorre devido o antibiótico administrado "matar" as bactérias mais fracas (as suscetíveis), e deixar as mais fortes (as mais resistentes) ainda no organismo, essas formam outras bactérias com o mesmo gene resistente.
No projeto, Larissa explica essa situação de forma clara: “Se a gente usa um antibiótico sem necessidade, como é o caso do covid, que é um vírus, e antibióticos são medicamentos para bactérias, a gente acaba contribuindo para a proliferação dessas bactérias mais resistentes. O nosso projeto do desenvolvimento da vacina continua em andamento, estamos ainda na fase de análise de candidatos, mas os resultados são animadores”, disse.
O artigo publicado na American Journal of Biomedical Science & Research, reúne informações dos estudos analisando outros artigos publicados.
“A minha parte do artigo foi procurar na literatura as classes de antibióticos que já temos registros de que a K. pneumoniae é resistente ou suscetível, facilitando o tratamento da mesma, e mostrando a diversidade de resistência da bactéria dentro de uma mesma comunidade, ou até dentro de um mesmo organismo. O objetivo principal era reunir os dados que temos, e mostrar como de fato essa bactéria pode ser sim o próximo problema de saúde global”, finalizou.
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