Todo o pedaço de madeira encontra um destino nobre nas mãos do artista José Adilson Ramos Cepinho, ex-funcionário da rede pública de ensino da prefeitura de São Paulo que, tão logo se aposentou, escolheu Santa Isabel para viver e criar com a esposa os seus quatro filhos.
José ou Cepinho, como é conhecido,mora com um de seus filhos, na casa que um dia pertenceu ao seu pai, na Rua Idactor Ferreira da Costa, Bairro Vila Guilherme. Em seu lar, cabos de vassoura e troncos de árvores nobres como: ipês roxo, cedros, cerejeiras e jacarandás se transformam em obras de arte.
Cepinho começou na década de 90 a produzir artesanato, corintiano fanático sua primeira peça produzida foi um São Jorge que ele mantém guardado até hoje: “Peguei um resto de arame e comecei a dobrar, quando percebi tinha feito um homem em cima do cavalo, ai para fazer o dragão eu usei uma latinha de cerveja”, recorda.
Em seguida, para incentivar um dos filhos a prosseguir na faculdade de Educação Física, José esculpiu em um pedaço de madeira as principais modalidades do esporte, a retribuição veio para o artesão anos depois com a formação acadêmica do filho. A partir daí José passou a esculpir em madeiras.
O que a mente criativa do Cepinho imagina, ele mais tarde transforma em carrancas, animais, pássaros, santos e monges. “O que produzo se não for para mim eu dou de presente é uma forma de me manter eternizado com as pessoas”, diz. Umas das peças que ele produzia na época era o símbolo de Igaratá, que José pretende presentear o primo e prefeito Elzo de Souza.
O artista mantém uma lojinha de produtos diversos em um cômodo de sua casa, ali ele expõe os terços feitos por ele com restos de arame, fio de cobre e sementes de plantas nativas.
Cepinho tem na figura paterna uma referência, seu pai, Alyrio Pinto Cepinho, trabalhou como maquinista na antiga Estrada de Ferro Central do Brasil, que durante 111 anos ligou as cidades do Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais: “Meu pai era um são paulino de princípios, sempre fiel a minha mãe, tratou de me ensinar os valores da vida. Ainda me lembro de nossos últimos momentos, quando em 1992 o São Paulo entrava em campo pelo primeiro jogo da Taça Libertadores da América ele passou mal e faleceu em meus braços ainda no corredor do hospital”, recorda emocionado.
A mãe Alice Ramos Cepinho, que também foi funcionária pública, faleceu no ano passado aos 97 anos, um dia antes do aniversário de Cepinho. “Ela me ensinou o valor da família, da união entre as pessoas que amamos e eu tento manter-me com elas a cada escultura que dou de presente”, revela.
Apaixonado por Santa Isabel, o artesão destaca que está sempre pronto a contribuir com o lugar onde vive: “Me entristece ver quantos jovens perambulam por essas ruas, caindo de um lado para o outro, entregues ao vício. Houve um tempo em que as pessoas viviam com mais simplicidade, e tinham uma vida longa”, conta com certo pesar, acrescentando em seguida: “Precisamos aproveitar cada instante como se fosse o último, mas cientes de que melhor do que deixar saudades, é deixar ensinamentos”, finaliza.
O texto foi originalmente publicado na Ed. 972 do Jornal Ouvidor e foi editado pela jornalista Erica Alcântara.
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