Atílio Magalhães ou Tilico (pai do Amauri e Jura Coroa) reunia amigos e contava que ainda no século XIX, Santa Isabel e Igaratá foram as principais responsáveis pelo abastecimento da capital paulista. Atílio era tropeiro, nasceu em Igaratá, gostava de contar historias sobre a vida de arrieiro, pousadas, paradas para alimentar a tropa, conhecia o trajeto para São Paulo como a palma da mão, dizia ele, a travessia sobre o rio Tietê em Itaquaquecetuba era feito por balsa, sua tropa de quarenta e cinco animais era a maior da região e para uma travessia segura era necessária oito passagens. O verdadeiro tropeiro não permitia maltrato aos animais, tampouco jornadas longas sem descanso, porquanto judiava e prejudicava o comportamento da animália, machucava o dorso e deixava o animal arredio, dizia ele. Nas suas prosas, lembrava que a nossa região era a principal bacia leiteira do alto Tietê, de tal sorte que os derivados do leite: queijo, requeijão, coalhada e doce, proporcionava emprego a muita gente, eram produtos muito procurados na capital. Mais tarde, dizia, já no século XX, na geração dos caminhões, o leite era transportado nas carroçarias em latões de 80 (oitenta) litros cujo destino era os Laticínios da capital que após um processo de pasteurização distribuía o liquido em vasilhame com embalagem publicitária às padarias e mercearias paulistanas. Com essa modernidade, a cidade perdeu os consumidores da capital, sofreu com a baixa venda dos derivados, pois os laticínios da metrópole passaram a fabricar e comercializar os produtos do leite através do comercio paulistano. A partir daí, nossos produtores passou a viver, exclusivamente, da venda do leite, perda significativa no comercio de derivados. Os caminhões transportavam latões de leite de segunda a segunda até rua Dr. Almeida Lima, no bairro do Brás em São Paulo, principalmente ao Laticínio Paulista, maior comprador da nossa riqueza. A coleta do produto feita pelos caminhões era muito difícil, as estradas mal conservadas dificultava o trabalho, lembrando que na estação das aguas o tráfego ficava impossível, resultando em perdas incalculáveis. Assim, com o desejo de mitigar o flagelo do transporte, em meados dos anos cinquenta, quando o prefeito era o Zico Lobo, nossos produtores resolveram criar uma cooperativa de leite em Santa Isabel, uma usina que fizesse ao menos o trabalho de resfriamento do produto de tal modo que o leite alcançasse qualidade e reduzisse o prejuízo dos produtores. Assim, sob a liderança de Olímpio de Azevedo, importante pecuarista de Igaratá, a proposta da cooperativa e a construção da usina ganhou força e despertou interesse da matriz do Leite Paulista que financiou a aquisição do terreno e construção da obra. Os fundadores da cooperativa eram grandescriadores de rebanho leiteiro desta região, como: Pelerson Penido; Gabriel Cianflone; Basílio Alvarenga; Zé Braga; Evaristo Resende; Joaquim Evaristo; Joao Carlos de Souza; Antônio Vaz; Jose Pinto da Cunha; Celio Jose dos Santos; Jose Carlos Prianti; Chico Lopes; Dr. Deusinho; George Barranjard; Ide Saueia; Chiquinho Barbosa; Orival Rosendo; Zuza; Dr. Astélio de Toledo Fernandes; Zé Leite; Quincas Vilela; Lupércio Leite Vilela; Nenê Mendes; Gentil Barbosa; Chico Cunha; Juvenal Ventura; Jose Maia; Chiquito Beraldo; Chiquito de Melo; Leopoldino Pedroso; Nicanor Ernandes e tantos outros. A inauguração foi marcada com grande festa, compareceram empresários da capital e região, imprensa e autoridades estaduais.O primeiro presidente escolhido foi o Sr. Chiquinho Barbosa, importante fazendeiro de Igaratá, a gerência foi entregue ao Quincas Leite, importante criador de rebanho de corte e leite de Santa Isabel. A cooperativa despertou interesse do Alto Tietê, Vale do Paraíba e região Bragantina, agregando cerca de 450 (quatrocentos e cinquenta cooperados), a produção atingiu mais de 6.000.000 (seis milhões) de litros ao ano. Para servir os cooperados, a diretoria construiu ao lado da usina um grande armazém para atender as necessidades do associado, com mercadorias a preço de custo, como: produtos alimentícios; roupa; calçado; vasilhas; vacinas, ração e remédio animal; pneus; lona; instrumentos agrícolas; bicicleta; arreio; laço; corda, enfim tudo. A cooperativa mantinha um veterinário exclusivo para cuidar da prevenção saúde do rebanho. Hoje sabemos que a cooperativa não carrega a pujança de outrora, a concorrência cresceu, os tempos mudaram, mas a cooperativa continua altiva e produtiva.
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