quarta-feira, 4 de maio de 2016

Cultura sertaneja: as modas caipiras de raiz


A música sertaneja, também conhecida como música caipira, boa parte dessa sonoridade tem como influências as fazendas de café, cana, entre outros e pastos de diversas áreas pecuárias. O termo provém do sertanejo, típico morador das áreas do sertão nordestino. Porém, a música em si deriva dos chamados caipiras (trabalhadores do interior) na região Sul. De qualquer modo há sim uma relação entre o Nordeste e São Paulo, já que em ambos sempre existiram pessoas que trabalhavam com agricultura e pecuária. E as músicas tratavam disso, histórias do povo esforçado e que vive dos frutos da terra.
Renato Teixeira
Vamos já deixar claro uma coisas sobre um instrumento desse gênero: a viola caipira é um instrumento de 10 cordas e um pouco menor que o violão, de 6. A viola como conhecemos tem origem no Brasil com a chegada dos portugueses no país. Talvez com a influência do fado, típica música portuguesa.
Uma das bases básicas das músicas sertanejas típicas são viola e violão, cantando em dueto. Mas muitas vezes se alteram com outros instrumentos musicais como a sanfona. Um fato engraçado é que nos primórdios, era mais comum os violeiros fazerem suas próprias violas, ou pedirem isso a um conhecido. Hoje em dia é fácil encontrar nas lojas especializadas um local para o instrumento em um ponto qualquer. Sendo que nem precisam ser produzidas aqui.
Considerado como um verdadeiro herói da música sertaneja, Cornélio Pires em 1929 começou a gravar "causos" (histórias dos sertanejos) e trechos de cantos na época. O que foi criando uma grande vontade no povo de escutar aquelas músicas, tratando do cotidiano do trabalhador mais simples. Ele divulgou de diversas formas a sonoridade. 
Com os discos, a música ganhou novos palcos. Como circos. Divulgando até mesmo aqueles que seriam as grandes estrelas dos cantores desse gênero, Tonico e Tinoco. Eles despontaram por todo o país como nunca antes havia acontecido, superando até mesmo Roberto Carlos.
Um dos temas recorrentes nas canções é a temática sertaneja. Isso existe quase sempre nas músicas antigas em que os boiadeiros muitas vezes trilhavam até seu destino, pedindo proteção. Muitas vezes depois eles pagavam promessas ao santo ou santa padroeira, como sinal de boa fé. Canções assim demonstram essa devoção através da simplicidade do homem do campo ou o viajante. Na letra de Romaria, temos uma prece feita por um por um peão que concede sua voz, já que não sabe rezar (supostamente não sabia ler) para demonstrar sua devoção a Nossa Senhora Aparecida. A música foi escrita por Renato Teixeira, e ficou famosa na voz de Elis Regina.
Entre os grandes nomes com esse ritmo são Tião Carreiro & Pardinho, Inizeta Barroso, Leo Canhoto & Robertinho, Liu & Léo, Pena Branca & Xavantinho, Trio Parada Dura, Milionário & José Rico, Iridio & Irineu, Nalva Aguiar, João Mulato & Douradinho, Pedro Bento & Zé da Estrada... Tantos nomes que demoraria bem mais tempo aqui escrevendo alguns só da área de SP. Além de Almir Sater que elevou a moda de viola a um novo nível, assim como Renato Teixeira, Rolando Boldrim e Sérgio Reis. Devem estar se perguntando por que não coloquei ainda nomes como Chitãozinho & Xororó, Zezé Di Camargo & Luciano, João Paulo & Daniel, Leandro & Leonardo, entre outros. Na verdade, esses também foram influenciados pelo som caipira de raiz, mas depois tiveram outras fontes para absorver. Como o country americano, onde temos um ritmo mais dançante. Talvez, por isso surgiu o dito sertanejo universitário.
Almir Sater
Além disso, temos danças típicas no interior como a catira. Quase sempre ocorre em estados como São Paulo, Mato Grosso, Goiás, norte do Paraná, Minas Gerais e Mato Grosso do Sul. Uma dança ritmada que consiste em movimentos como bater pés e mãos, com a influência dos violeiros presentes tocando. Alternando para cada mudança das músicas. Quase sempre ocorrem em rodeios ou festas religiosas.
Hoje em dia, a música sertaneja tomou uma divisão completamente diferente. Para o que chamamos entre sertanejo de raiz e sertanejo universitário. Além dos grandes shows feitos com relação a essa segunda, um dos maiores fatores para a primeira não ter tantos fãs é migração das pessoas para os grandes centros urbanos. Lembrando: as músicas caipiras contavam o cotidiano do povo trabalhador. Não somente paqueras ou desilusão, e sim casos com maior importância.

Mazzaropi
Mazzaropi foi um dos grandes divulgadores da vida sertaneja nos cinemas. Fazendo longas-metragem que mostravam personagens típicos do interior. Com seus trejeitos e modo único, ele quebrou o paradigma do protagonista belo da época em que produziu os filmes. Atuou em 32 filmes, começando pelos circos, depois trupes, teatros, rádio e finalmente cinema. Ele é nascido em São Paulo. Filhos de um italiano com uma portuguesa, ele ajudou a mostrar como é a vida dos caipiras. Entre seus filmes temos Betão Ronca Ferro (1970), Sai da Frente (1952), O Gato da Madame (1957), Chofer de Praça (1958), Jeca Contra o Capeta (1976). Abriu sua própria produtora de filmes, o que demonstra a coragem que ele tinha para fazer filmes que retratassem a realidade do povo. Contava com compositores de talentos com canções lindas em seus
Inezita Barroso
filmes, nem sempre só sertanejas, mas grande parte delas eram. Além de ter deslanchado a carreira de atores de renome, alguns ainda fazendo parte da grande mídia. Faleceu no dia 13 de Junho de 1981.
Ainda assim em certas cidades ainda existem pessoas que tentam preservar as memórias desse estilo de vida e música. Como as rodas de viola.
Um dos fatores que notei ao pesquisar é que as canções antigas não tratam de bebedeiras ou dançar. Elas podem muito bem tratar de parte da história das cidades, ou no mínimo, mostrar como eram as antigamente o municípios.

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