Qual não foi minha surpresa, quando uma professora me falou
sobre esse escritor. Luiz Del Nero Netto, o “Netinho”. Colunista e jornalista
do Jornal O Ouvidor. Até mesmo na
parte de trás de seu livro ele escrevia que era “o último dos jornalistas boêmios”.
Ou seja, aqueles que muitas vezes escreviam suas pautas em uma mesa de bar. Mas
era muito meticuloso.
Prova disso está em uma história que ouvi do próprio Roberto
Drummond Melo Silva sobre o autor. Segundo ele ocorreu o seguinte: em certa época,
ele teria ido até uma empresa, ao qual viu uma propaganda que estava escrita de
forma errada. Ou seja, saindo dos parâmetros da gramática. Luiz tinha uma
conversa tão agradável que foi chamado para a empresa, e subiu postos até a
diretoria de empresas multinacionais.
Seu livro Histórias de
Amor e Morte é a coletânea de histórias publicadas por ele ao longo de dois
anos. Com histórias inspiradas pelo povo, pelo imaginário ou de páginas de
jornais de sua época como jornalista, mostrando os duros limites entre o amor e
o ódio.
Foi publicado pela Editora Jornalística de Igaratá (a mesma do
Jornal O Ouvidor). Com capa feita pelas mãos do artista Sandro Camargo e prefácio
do próprio Roberto Drumond Melo Silva, seu antigo colega. Contêm só 80 páginas.
A seguir uma das histórias da obra, O casamento:
“Tinha começado na difícil
“vida fácil” aos dezoitos anos. Aos vinte e três, já com boa experiência e
algum dinheiro guardado, começou a pensar em deixar o bordel. Então, ele
apareceu. Boa pinta, alto, forte, moreno, bem proporcionado de peso e muito
simpático, tinha até um bom emprego. No começo pagava. Depois ela começou a “ir
no amor”. Afinal era gentil, diferente dos demais. Levou-a para passear,
distrair-se e cobriu-a de atenções. Deixou-se seduzir impulsionada pela carência
que
tinha um apoio forte, de conviver com alguém que visse nela algo mais que apenas mercadoria que se pode comprar, quando se tem necessidade de sexo. Desenvolveu por ele uma fantasia de namorada. Começou a sonhar com vestido de noiva, altar e música de casamento. Foi então que ele propôs. Quase morreu de emoção. Juntaram o dinheiro de ambos, alugaram casa, mobiliaram-na e se casaram. Como nos romances para mocinhas de antigamente.
tinha um apoio forte, de conviver com alguém que visse nela algo mais que apenas mercadoria que se pode comprar, quando se tem necessidade de sexo. Desenvolveu por ele uma fantasia de namorada. Começou a sonhar com vestido de noiva, altar e música de casamento. Foi então que ele propôs. Quase morreu de emoção. Juntaram o dinheiro de ambos, alugaram casa, mobiliaram-na e se casaram. Como nos romances para mocinhas de antigamente.
Dois meses após, chegou
em casa com um amigo. Ela serviu “drinks” e correu para melhorar o jantar.
Estava na cozinha aumentando a salada, quando ele entrou. “Não se preocupe –
disse. O Alberto não veio aqui para isso”.
“Uai! Veio então para o
que?” perguntou surpresa.
“Para ficar com você”.
Gaguejou, quis falar mas
ele não permitiu.
“Olha. Vou sair e volto
daqui a duas horas. Cuida bem do homem que até já pagou. Se quando eu voltar
ele se queixar, te arrebento na porrada”.
Ficou estatelada. Ele
saiu.
No dia seguinte, o mais
novo cafetão da praça pediu demissão no bando, onde era caixa.”
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