quinta-feira, 15 de julho de 2021

(Espaço Aberto Brasil-EUA) Um relato de imigração nos Estados Unidos

Eu não queria estrear esses textos dessa forma, mas talvez, mais para a frente, eu possa fazer isso de um modo melhor e mais bacana. E com melhores notícias. Mas aqui deixo um relato de E..

Em 2021, E., pedagoga, teria ido para morar no Estados Unidos da América. Junto com ela foram seu marido M. e seu filho J...
Entretanto, não foi o mar de rosas que muitos imaginam.
A seguir, um relato dela sobre como foi o processo deles para imigrar nos States. Ela tinha enviado a uma amiga e depois, a E. enviou para mim.

"M. e eu já queríamos ir prós EUA desde 2019 né, você lembra que eu falava isso na faculdade. Que iríamos dar um jeito, só não sabíamos como ia ser e quando por questões financeiras. 

E então o pai dele veio a falecer de covid esse ano, agora em Março. A herança foi dívida entre os 8 irmãos. Mas ainda assim não era o suficiente pra gente vir, vendemos tudo! Praticamente. Carro, moto, ainda tem umas coisas nossas de casa como móveis para vender. E viemos. 

A vinda pra cá veio daquela forma sabe, pelo cai cai no México. Nós embarcamos na sexta feira da semana passada, no domingo às 9 da noite nos entregamos. 

A viagem até Tijuana foi maravilhosa, ficamos em hotel, tudo do bom e do melhor ( claro, nada 5 estrelas) mas depois que atravessamos e nos entregamos a imigração americana. 

😶 Foi a coisa mais tensa, ficamos 5 dias presos. Presos literalmente, M. eu e J. em uma cadeia. Eles apenas não separaram as mães dos filhos sabe, mas eu dormi num colchonete no chão com o J. cobertos com uma manta térmica, mais parecida com papel alumínio. 

Nunca nos faltou o que comer, mas a tristeza e o arrependimento e o medo se faziam presentes. 

Eu nunca fiquei tanto tempo sem comer, não tinha fome. Chorava pelo João, por medo de perder o M., medo de ser presa e ir pra federal, medo de ir pra longe dele e ficar sozinha... Por eu ter ansiedade eu sofria mais ainda, porque eu pensava em tudo, em cada detalhe que nem tinha importância. 

Consegui ver ele lá na cadeia na quarta feira, foi igual cena de filme, ou do que você vê das pessoas na tv quando pedem asilo nos EUA. Nada daquilo é mentira. É muita angustia, humilhação, DIAS sem tomar banho! Fedendo suor... Horrível. 

Na quarta feira a tarde fomos transferidos de prisão, pra uma em Los Angeles. Lá era melhor, mais limpo e organizado. Assinamos nossos documentos pedindo o asilo e proteção do país na Quinta feira, e na sexta às 9:30 da manhã fomos liberados. 

Fizemos teste de covid antes de ser liberados, e então ficamos sobre a tutela do Governo Americano. Estamos resguardados da lei, aguardando o processo na corte que vai acontecer em Setembro. 

Na sexta fomos para um abrigo, tinha tudo do bom e do melhor, brinquedo pro J., comida de verdade, banho, cama! Tudo o que você pode imaginar. Não nos faltou nada, assim como não nos faltou na prisão. 

Mas eu ainda tenho um pouco de receio, por tudo o que eu passei ao longo desses dias. 

Estou indo morar em Massachusetts. O governo sabe, está em nossos documentos. E também o M. está com tornozeleira, igual de bandido aí no Brasil. 

Fica sendo monitorado 24h por dia para ver se realmente não irá cometer crimes, ou qualquer outra coisa que fuja das regras dos EUA. 


Fora isso estamos bem."

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