quarta-feira, 3 de agosto de 2022

Sebastião por Sebastião: uma história incrível

No dia 2 de Agosto de 2022, eu tive a oportunidade de conversar com Sebastião de Souza Claudiano. Seu nome é quase que uma referência a seu avô, Sebastião Claudiano. Ao conversar com ele, alguns dados ditos por ele me auxiliaram a compreender ainda mais essa figura tão importante para a formação de Santa Isabel.
Ao conversar com ele, seu neto começou falando como começou sua pesquisa. Com formação em Letras, sua investigação ocorreu na Câmara Municipal de Santa Isabel. Através do auxílio de Teresinha Pedroso, ele deve acesso a arquivos das sessões do período em que ele foi vereador e de seu padrasto, José Chaim.
Sua pesquisa se concentrou em dados de 1920 até 1932, até a intervenção da ditadura de Vargas.
Para compreendermos melhor, devemos lembrar que o ano de 1880, poderia ser o que estava escrito em sua certidão de nascimento. Mas nem isso é uma certeza histórica, visto que era uma criança negra, durante o período da escravidão. 
Vindo de Igaratá para Santa Isabel.
E então, outro dado obtido pela pesquisa e o convívio do neto com Sebastião Claudiano era que ele era introvertido. Talvez isso tenha sido consequência de ter sua história, literalmente, sido retirada dele. Mesmo que seus pais adotivos, um casal de italianos, tenham sido ótimos responsáveis, sua família foi fragmentada. Tudo isso se deve a esse capítulo macabro do Brasil, a escravidão.
Ainda assim, ele foi uma pessoa privilegiada na República Velha: um homem negro, alfabetizado, artesão de talento, além de músico (tocava violão e clarinete, até mesmo na Corporação Musical São Benedito). Aliás, Sebastião Claudiano trabalhava com alambiques, os confeccionando e moldava bacias de cobre, para fazerem farinha. Tudo isso ensinado por seu pai adotivo Pascoal Judíci.
Ainda assim, sua busca por raízes nunca deixaram a mente de Sebastião Claudiano. Um de seus irmãos foi encontrado em 1940. Já uma das irmãs estava agregada a um casal de juízes. Acima de tudo, mesmo que não tivessem uma grande convivência, foram se aproximando através dos anos.
Mas sua entrada na política, deve ter sido devido ao seu padrasto, o segundo marido de sua mãe adotiva (Pascoal tinha morrido), que entrou na vida política de Santa Isabel, José Chaim.
E voltando a conversa com o neto, Sebastião de Souza Claudiano, ele trata sobre esse período de transição entre o Império e a República Velha. E o surgimento de autores que tratam das desigualdades dessa época. Visto que tanto antes, quanto depois, seu avô pode ver uma política de branqueamento, um homem negro. Autores como Lima Barreto, Cláudio Costa e Castro Alves são importantes para combater esse sistema. Assim como anos mais tarde Paulo Freire dirá que só através da educação alcançaríamos a libertação. E o caso dessa figura histórica é uma prova disso.
Sabemos que Sebastião Claudiano foi delegado entres os anos de 20 e 30, em Santa Isabel mesmo. Lembrando que nesse período, esse cargo teria que ser nomeado pelo poder público do município. Além disso, foi correspondente em um jornal da capital, São Paulo. Sendo um ponto de conhecimento dentro de Santa Isabel.
Adentrou na política, pelo PRP (Partido Republicano Paulista), o que pode parecer contraditório pelos ideais de Sebastião, mas necessário para adentrar na vida política. E o fez, assim como José Chaim. E um fato pouco conhecido é que Sebastião Claudiano foi prefeito. Então podemos citar que o mesmo foi a frente de seu tempo, ao menos três vezes: primeiro vereador, primeiro presidente da câmara e primeiro prefeito negro. 
Ele permaneceu na vida política até 1932. 
Deve terrenos na Avenida Manoel Ferraz de Campos Salles (antes chamada de Rua Totô de Assis), próximo de onde hoje em dia fica o cartório e na área da Karibê, de frente para um caminho da variante.
Faleceu em Maio de 1962, mas deixou um legado ao qual seu neto fez jus. Pesquisando e falando sua história até hoje.

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