domingo, 20 de março de 2022

Entrevista de Maurício de Sousa a Revista Inovar

"Quando descobriu o dom para desenhar e criar histórias em quadrinhos?
Não fiz cursos. Fui, no início, desde criança, orientado pelo meu pai sobre como usar lápis, pintar, evitar desperdício de papel, copiar do natural. Depois, sozinho, copiava dos gibis as figuras mais interessantes. Decalcava, quadriculava, para ter uma cópia perfeita. E depois passei a criar minhas próprias figuras, personagens. Não fiz cursos. Aperfeiçoei meus desenhos sozinho. Mas sempre ouvindo e aprendendo com profissionais quando possível.

Quando percebeu que isso poderia ser uma profissão?
Mais uma vez foi meu pai, que me levou até a redação de um pequeno jornal esportivo de Mogi das Cruzes (cidade onde eu morava) e me apresentou ao redator chefe, seu amigo, sugerindo que ele utilizasse meus dotes de desenhista. Fui aceito. E comecei a desenhar e publicar ali. Deveria ter uns 16 anos. 

Qual foi seu primeiro personagem, como ele foi criado?
Meus primeiros personagens foram o Bidu e o Franjinha. O Bidu foi inspirado em meu cachorrinho Cuíca. Mudei o nome para aproveitar essa palavra "bidu" que na época do final dos anos 50 era muito usada para designar alguém que sabia tudo. O Franjinha foi inspirado em um amigo.

De onde vem a inspiração para seus personagens? É verdade que o Chico Bento é inspirado em Santa Isabel, sua cidade natal?
Eles nascem quando eu sinto que faltam personagens adequados a um novo tipo de mensagem ou situação. Daí busco ideias ou inspiração em pessoas conhecidas, parentes, amigos, que sempre me dão "humanidade" necessária para que esse personagem se identifique mais fortemente com o público. Chico Bento tem um pouco de cada lugar em que vivi no interior de São Paulo.

Você já ganhou vários prêmios e títulos, além da homenagem da Escola de Samba Unidos em 2007, existe algum especial?
A conquista de prêmios sempre é bem vinda, nos estimula e valoriza nosso trabalho. Mas o maior prêmio que carrego comigo são os milhares de leitores que, apesar de toda a tecnologia com MP3, celulares, games, internet, etc, ainda encontram um tempinho para ler nossas historinhas. Várias já disseram que aprenderam a ler com meus gibis. Isso é meu combustível nesse e nos próximos anos.

Como é fazer parte da Academia Paulista de Letras, como aconteceu o convite?
Fui convidado por alguns membros e amigos escritores conhecidos. Além da honra de me sentar ao lado de luminares da literatura e intelectualidade, beber de suas luzes e inteligências, gostaria de atrair crianças e jovens para conhecerem a Academia e seus representantes.

Hoje entre quadrinhos e tiras de jornais, suas criações chegam a cerca de 50 países. Os quadrinhos se juntam a filmes, ilustrados, revistas de atividades, álbum de figurinhas, CD-ROMs, livros tridimensionais, livros em braile, etc. Você tinha ideia que chegaria onde chegou, qual seus planos para o futuro?
Há uma identificação dos leitores com os nossos personagens. Provavelmente a semelhança de hábitos e costumes entre eles. A turma - criança ou jovem - fala e age como muitos dos leitores. Há quase que uma cumplicidade de hábitos. O que facilita e aponta para o sucesso de nossa obra. 
Temos tido cuidado de manter essa proposta nas nossas produções. Desde sempre. E tem dado certo já há mais de meio século. Já o futuro.

Você ainda desenha desenha e participa da criação das histórias?
Fico algumas horas no computador, avaliando histórias, cuidando de correspondências, examinando desenhos (na tela). E quando dá, reuniões de negócios ou para discutir novos projetos. Na coordenação dos roteiros tenho ajuda de minha filha Marina. Gostaria de ter mais tempo para desenhar as historinhas do Horácio.

Qual a sua dica para quem quer seguir a mesma carreira que a sua.

Quando você escolhe uma atividade ligada à criança, sua missão não tem tempo de terminar. Criança nasce todo dia. E se fazemos algo que as agrada, que nos agrada, que é positiva, alegre, divertida (como as crianças), seguimos em frente sem botão de parar. Enquanto possível, com a mesma energia. Agora, se quiser se dedicar à produção de historietas, tem que estudar bons autores, aprender com seus desenhos, e ler, muito. Instruir-se."

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