Em 1902, no governo estadual de Rodrigues Alves, Santa Isabel comemorou a construção do Fórum, Delegacia de Polícia, Destacamento da Polícia Militar e Cadeia Pública, todos no mesmo edifício que hoje abriga o Paço Municipal Prefeito Joaquim Simão. Prédio suntuoso, dois pavimentos, frente ajardinada com quatro palmeiras imperiais. O piso térreo abrigava uma sala para o comandante do destacamento, presídio com quatro celas, nos fundos um espaço fechado com muros altos para o banho de sol. No piso superior, o fórum, salão do júri, gabinete do juiz, do promotor e do delegado de polícia.
De rigor, o episódio que marcou indelevelmente o edifício do fórum foi a inauguração da Imagem de Cristo Crucificado na sala do tribunal do júri, o fato ocorreu num domingo, às 18,00 horas, do dia 09 de Junho de 1918, a doação veio da Diocese de Taubaté, através do Padre Albino Frederico, vigário da nossa paróquia e representante do Bispo Dom Epaminondas Nunes de Ávila.
A cerimônia ocorreu após o encerramento das solenidades do Mês de Maria, o Padre Albino Frederico organizou uma procissão com a participação da Irmandade do Santíssimo Sacramento, alunos do catecismo, senhoras e senhoritas, alunos das Escolas Reunidas e grande massa popular que acompanharam a bela Imagem do Cristo Crucificado, de um metro de altura e conduzida pelo Prefeito Manuel Antônio Mendes até o Edifício do Fórum.
Ao chegar em frente ao prédio, ostensivamente iluminado, foram queimadas baterias de fogos de artifício, girandolas, rojões e dezenas de foguete, a estátua adentrou a casa da justiça, o Destacamento da Polícia Militar posicionado em continência, sob as ordens do comandante Cabo Benedito Amaro de Oliveira, reverenciou a Figura do Cristo nas mãos do prefeito, ao fundo se ouvia a Banda Musical entoando hinos e canções de piedade e fé.
O juiz, Dr. Tancredo do Amaral, encarregou o Promotor Público, Dr. Plínio Lacerda de Oliveira, e todos os escrivães e funcionários do judiciário a receberem no alto da escadaria o Sr. Vigário, prefeito e demais pessoas, e, em pé, junto a sua cadeira de presidente do Tribunal do Júri, achava-se o Juiz na sala das sessões, ornamentada de flores, onde já se encontravam o presidente da câmara, vereadores, chefes políticos, professorado e corpo de jurados. Então o padre Albino Frederico, representando o Bispo da Diocese de Taubaté, Dom Epaminondas Nunes D’Ávila e Silva, pronunciando conceituoso discurso enaltecendo a sociedade civil e religiosa, reafirmando a necessidade de se intensificar a fé.
O vigário discorreu, ainda, sobre a ordem e a liberdade que devem ser os esteios de uma e de outra, referiu-se, sobretudo, a necessidade do respeito às leis e às autoridades, sem as quais não há ordem, nem paz, nem progresso. Asseverou que a igreja condena a desordem e a anarquia, que são resultados da falta de compreensão de tais deveres por parte daqueles a quem a vaidade pessoal cega, terminando por oferecer a imagem conduzida pelo Sr. Prefeito. Uma calorosa salva de palmas foi ouvida.
Em seguida, o Dr. Tancredo do Amaral ao receber a imagem pronunciou um longo discurso que se resumiu no seguinte: Reverendíssimo padre Albino Frederico, digno representante do Venerando Bispo da nossa Diocese, Sr. Prefeito Municipal, ilustre colega Representante do Ministério Público, senhoras e senhoritas, senhores jurados, meus senhores. “Benedictum qui venti in nomine domine” (Bem-aventurado aquele que sopra em nome do Senhor), sejam as minhas primeiras palavras do mais respeitoso agradecimento ao exmo. Padre Albino Frederico e representante do Bispo, Dom Epaminondas de Ávila, que solenemente veio trazer ao Templo da Justiça a Sagrada Imagem do Cristo Crucificado, d’aquele que foi pelas suas obras, pelo seu exemplo e pela sua sublime doutrina, consagrado pelo maior sofrimento humano e pela mais humilhante e horrível morte, o maior apóstolo dessa mesma justiça.
Prosseguiu, dizendo, essa imagem representa um estímulo à justiça, o cumprimento do dever e um conforto para os infelizes e desgraçados, de piedade, mas, também, de justiça, amparando as crianças, socorrendo os enfermos ante as mais inomináveis injurias, finalmente, dando a cada um o que é seu, perdoando o bom ladrão, expulsando os vendilhões do templo, ordenando pelos seus mandamentos, consubstanciando a lei divina, à propriedade, à honra, à mulher do próximo, à infância desvalida e a velhice desamparada, tudo simbolizado na seguinte fórmula “amai-vos uns aos outros”, princípios que hoje se condenam em todos os códigos do mundo.
Com a construção de um novo prédio do Fórum, em 1965, é possível que a imagem do Cristo Crucificado seja outra, mas por mais de 40 anos o crucifixo doado pela Diocese de Taubaté permaneceu na sala do Tribunal do Júri.













































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